Por uma vida mais autĂȘntica
- Marcelle Freitas
- 23 de out. de 2024
- 2 min de leitura

Estamos na era do instagramĂĄvel. As coisas que merecem destaque sĂŁo aquelas que valem ser compartilhadas e ficam bonitas numa foto, sempre diante dos incontĂĄveis olhos que tudo vĂȘem e tudo julgam. Entre as milhĂ”es de fotos de si mesmos, todos parecem performar alguma coisa. Se parece ser possĂvel tornar-se qualquer coisa, ou tenta-se encaixar em algum padrĂŁo jĂĄ bem desenhado ou nĂŁo se tem a menor ideia de quem se Ă©.
E quem somos nĂłs diante de tudo aquilo que Ă© esperado de nĂłs pela famĂlia, demandado pela falta de grana, pela pressĂŁo social dos amigos, pelos que vendem uma vida simples e feliz correndo maratonas ou chegando em casa quase de manhĂŁ depois de encher a cara?
Quem somos nĂłs diante dos novos modelos de relacionamento, diante dos que nos desejam ou do nosso prĂłprio espelho? Quem somos quando o mundo faz parecer que tudo aquilo que nĂŁo somos ainda Ă© uma demanda que nos cabe carregar?
Quem somos nós dentro do fluxo incessante que não nos då tempo de pensar ou de escrever poesia? Serå que esquecemos de nos perguntar? Serå que todo esforço por ser amado, admirado, seguido e curtido foi engolindo as esquisitices que nos faziam mais nós?
Talvez vocĂȘ tenha sido uma criança que se submeteu muito rapidamente aos desejos dos seus pais, talvez vocĂȘ tenha discutido muito com eles pela sua prĂłpria independĂȘncia e singularidade.
Talvez vocĂȘ tenha criado uma mĂĄscara social que funciona mas que vocĂȘ nĂŁo coloca muita fĂ©, talvez vocĂȘ tenha se reprimido bastante e prefira ficar no seu mundinho longe de tantos julgamentos.
De qualquer maneira, dĂĄ um medo danado de ficar sozinho, de nĂŁo encontrar saĂda num mundo onde nunca existe pĂłdio de chegada.
Encontrar com quem somos e viver juntos é o maior desafio desa vida. Tecer caminhos tortuosos em que caibam diferenças, em que as pessoas possam se enxergar sem a mediação de telas, sem invadir nem negligenciar ninguém. Que não seja uma utopia, mas seja uma direção.