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Tomando a palavra

  • Foto do escritor: Marcelle Freitas
    Marcelle Freitas
  • 5 de nov. de 2024
  • 2 min de leitura


Eu poderia citar Foucault para dizer que todo enunciado está articulado a uma prática, que carrega consigo um campo de coexistências e, portanto, constrói realidades sociais, molda as relações de poder. Mais ainda para dizer que a disputa de enunciados nos faz ver a olhos nus as diferenças sociais estruturando as dinâmicas discursivas. Define quem tem voz, quem pode falar e quem não pode.


Eu poderia citar Grada Kilomba para afirmar a dimensão política da língua e nos lembrar que ela carrega tanto a possibilidade de criar mundos outros como a de perpetuar os mesmos poderes e ass mesmas violências.


Eu poderia ainda citar Neusa Souza Santos para afirmar a potência de produzir um discurso sobre si mesmo em termos de autonomia do sujeito.


E talvez eu tenha começado pelos autores um tanto por honrar suas produções, um tanto pela necessidade de validação que ainda me atravessa e muito.


Mas eu quero mesmo é tomar a palavra e dizer por mim mesma a importância de levantar a voz, de dizer que não, não dessa vez. De fazer cara feia toda vez que me sinto diminuída, atacada, invadida, descredibilizada. A importânica de me impor, colocar as palavras por cima dos meus limites desrrespeitados. Algumas vezes fazendo o barraco que fantasio e nunca protagonizo, mas muitas outras sendo educadíssima e utilizando dos mesmos artifícios do eurocentrismo branco colonizador.


E quero dizer ainda, que não se trata apenas da construção da minha autonomia e da minha autencidade, tão individuais. Trata-se principalmente de uma disputa de enunciados num mundo em que narrativas criam práticas de vida. Se frente a um homem branco acadêmico eu tremo dos pés a cabeça e me sinto menor, quão importate é conseguir a coragem de acreditar no que tenho a dizer. Se as exigências de um conservadorismo ainda me fazem sentir vergonha de mim mesma em determinados espaços, quão revolucionário é poder ser eu mesma, nem que seja pelas caras e bocas que transparecem os afetos.


Saber-se minoritário é compreender que carregamos o silenciamento conosco, e que tomar a palavra será sempre saúde, esperança e revolução.


(Imagem: Emmerson Rocha)

 
 
 

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